Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

27.10.05

Idéias sobre um adeus


Um aperto, um soluço.
Um desejo contido.
Emoções guardadas.
Alguns tipos diferentes.

São muitas as diferenças...

Mas os corações são um só.
Ao menos eram.
E agora despedem-se, num desligar doído.

Um fio. Uma tênue ligação.
Desligada.

Rompida. Porque da cabeça,
nada se pode saber. Nunca. Desde que se não queira.
Não queria.
Não quero.

Mas, assim sendo,

Adeus.

25.10.05

Acordar atrasada de manhã é a pior coisa que tem. Bom, a pior não. Mas é uma sensação ruim. Quando usamos este tipo de comparativo: o pior, ou o melhor, geralmente não nos responsabilizamos por sérios julgamentos. De fato, há coisas muito piores... Mas isso não diminui a irritação que dá quando o maldito despertador te deixa na mão. Ou no pé, enfim... Não há mais o que se fazer, a não ser levantar como uma psicopata enlouquecida e pernaspraquetequero. Mas se você parar para pensar, como eu fiz hoje de manhã, “- E aí? Qual será a diferença entre correr e esquecer um monte de coisas, não comer, ficar com um puta mau humor infernal e sair xingando inclusive ao desgraçado que inventou aquele celular que não é capaz de despertar na hora que a gente programou?... Tudo isso e ganhar o que? Uns vinte minutos... Ah, não valeria a pena. Em momentos assim eu prezo pela conquista da autonomia do seu horário! (Bonito, né?) Isso exige uma certa organização, um quê de disciplina e força de vontade extra em diversos momentos. Já que, quando somos nós os responsáveis pelas nossas próprias tolerâncias, fica difícil negar aqueles 30 minutinhos a mais no sagrado sono matutino... 30 minutos? Como assim? Mas arquiteto é tudo folgado mesmo...

É, mas voltando ao assunto da autonomia. Trabalho num lugar onde os minutos são imprescindíveis. O trabalho é sempre uma grande correria. Temos interesses “a cumprir”. Prazos a atender. Desejos a realizar. É? Desejo de quem? Ah, não interessa de quem. O que interessa é que o salário permissor só entra no seu bolso quando a sua tarefa for cumprida. “Ah, então beleza, então termino tranqüilamente na semana que vem”. “N-Ã-O! O salário permissor só vai entrar no seu bolso quando a tarefa for cumprida e no prazo que E-U estipulei. Afinal, sou E-U que tô pagando, certo? ‘O empregado tem que se ajustar à empresa e não a empresa se ajustar ao empregado!’”. Enfim, mundo cão... É? Nãooo... É a vida... assim mesmo. Podia ser pior, né?

E depois de outra digressão... Ah, ia dizendo sobre a autonomia no trabalho. Uma conquista. É? Acho que é a mais pura sorte. Só que nunca, num mundo Justo como o que nós vivemos - Justo e Equilibrado - a sorte poderá vir sem a Culpa. Um monte de gente sem autonomia de horários... E eu. Eu atrasei 30 minutos. “Mas não foi culpa minha. Aconteceu, 'virou manchete'...” É que eu esqueci que além de Justo, o nosso mundo também é cristão. É verdade. Suspiro. E talvez por isso seja tão Equilibrado...

22.10.05

Eu sou um bicho confuso. Eu gosto disso e não gosto daquilo. Aí um dia eu acordo e gosto mais daquilo do que disso. E depois esqueço o que era aquilo e isso e passo a ver aquele. Aquela. Passo a ver a mim mesma refletida em um espelho machucado de lembranças antigas. Sou forte. Não tenho dúvidas. Quer dizer, ainda tenho. Mas não quero mais ter. Quanto menos eu tenho, mais eu tenho. Forças. E vontade daquilo que eu sou e não consigo pegar.

Quero tanta coisa. Eu preciso.

É preciso ter fé para fazer acontecer o dia, todo dia dos nossos dias.
É preciso ter coragem para começar tudo aquilo que começamos todos os dias de nossos dias.
É preciso ser forte para agüentar as rotinas não rotineiras que acontecem todos os dias de nossos dias.
É preciso pessoas. Gente ao nosso lado para que vivamos cada dia de todos os nossos dias, e lidemos com a solidão que invade, sem pedir licença. Mesmo quando toda uma multidão do metrô Carrão às sete horas da manhã tenta entrar porta adentro de um trem cheio. Cheio de gente.
E com as pessoas, amor.

Me falta a fé.

– E daí que as pessoas disseram que eu disse isso?
Não há provas.

Não há como confrontar a realidade com as suposições etéreas de uma cabeça vazia de toda a concretude de um universo manco; sem as provas.