Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

25.11.06

No mundo de Paula

Paula
Pausa
É pauta
Pensa
Aula
Falta
Cruz em Malta
Malte
Chocolate
Cruza
Alta
Canta
A Pauta!

Faz a ata
Contrata
A rata
Da mata
Melada
Comanda
Come tudo.
Bebe,
Mama,
Papa.

Papíbaquígrafo.
Paralelepípedo.

Castra e cata.
É casta.
A Paula
Na jaula
Não pausa.

É alma.

19.11.06

Retrato em Azul e Cinza e Branco




Alguém não quer mais chorar.
E a imagem chora a derradeira lágrima.

Despede-se da dor e embarca,
aliviada,
na canoa das idéias. Indolores.

Viaja para longe onde não se possa mais achar.

Acompanhada de Ninguém,
Alguém segue.

Rumo ao desatino-nada.
Não nada, sem remo. Com rumo.
Murmúrio.

Sem dor.
Nada-dor.
Compete em ritmo que não convence.
Não há quem. Há Ninguém.
Não há-dor.

Nem Sol-de-pôr.

É vazio,
de paisagem buco-lógica.
Pretenso canal matemático.
Onde o ósculo
espera.

16.11.06

Rotina

Seis caixinhas no primeiro.
Empilham-se até chegar mais perto de deus.
Em cada caixa,
uma especialidade.
Única.
Não,
às vezes repetida.
Até que se pensando,
muitas vezes.

Cada caixa, dois espaços.
Espaço de ficar,
espaço de receber.

Luzes apagadas no segundo,
porque não há ninguém.

Alguém sozinho no primeiro,
que do sexto,
ouve risos ecoados do segundo espaço da caixa do lado.

Risos esparsos que parecem despretensos.
Alguém espera.

E depois se vai.

Os risos somem.
Se consomem e acabam.

O sozinho, que também podem ser os,
abafa o riso, porque não tem porquê.

Fica ali, tiquetaqueando as teclas barulhentas do seu teclado
velho.
Ouvindo os risos que não quer dar.

Amaldiçoando o silêncio
que sua nuca insiste em carregar.

Está ficando com torcicolo.

Não vê a hora de ir para casa.
E contar o preço que aquela
dor pôde trazer.

Não é muito não.

Mas talvez seja suficiente para voar.

E sair pra longe da caixa preta
que não guarda mais nenhum sorriso
e nenhuma história derradeira.
Está retrocedida aguardando
o silêncio da próxima rotina que irá devorar.

14.11.06

A ridícula inabilidade de contar palavras e poetar os números

De um exercício de compor em métrica,
Pra que a lógica traga o encontro. O
caso entre a guitarra elétrica
qu'automática inspira encanto.

É bem difícil controlar idéias.
De um jeito que aniquila o pranto
daquela que almeja a colméia.
E o zangão pra dividir o manto.

Em meretrício a fazer asséptica,
É sórdida ao relatar estrondo.
Vaso de alcaparra tétrica,
Matemática de linha e ponto.

Dentifrício a branquear a velha
que no peito cochila o sonho.
Arandela qu'ilumina a estréia
e o chão pra enlouquecer
a mente.

11.11.06

Anotações precisamente Importantes

- Não esquecer de pagar o condomínio

- Passar no centro da cidade para pegar o relógio que ficou pronto

- Lembrar que ainda falta muito do trabalho iniciado

- Conseguir dinheiro para financiar o tal projeto de trabalho já iniciado

- Lembrar sempre que a hora passa e não dá tempo de parar para não fazer nada

- Esquecer de lembrar a todo momento o motivo de tua tristeza

- Lembrar de aguar as plantas: floreira todos os dias; vasinho menor dia-sim-dia-não; orquídea só na segunda

- Ler 3 capítulos por dia

- Correr para dar tempo de fazer tudo o que dia permite e nem tanto assim

- 5896-3452 Seu Antônio

- Lembrar de anotar a música do Zé Ramalho (aquela sobre Brasília)

- Sentar um pouco e escrever sobre os últimos acontecidos (já há muito acumulado)

- R$1200,00 a hora, sem nota fiscal (tô fudida)

- Vender apartamento e pensar no futuro

- Dormir (portanto esquecer o futuro e nem pensar no agora)

- Lavar as roupas que estão acumulando

- Passar as roupas que estão acumulando

- Esquina com a Rua Flor de Madeira, perto da igreja São Francisco (tem que ligar antes para confirmar)

- Xerocar os livros para leitura

- Comer (portanto ir ao mercado: está faltando ovo, sabão em pó, frutas, saladas, feijão, carne moída, água sanitária, caldo de carne, suco, chá e chocolate em pó pra fazer bolo)

- Reunião no domingo às 10hs sem muito hora para acabar

- Não esquecer de ir ao cinema

- Pagar o condomínio porque vai vencer! (frisando assim só pra lembrar, não sei o que acontece, mas ando tão esquecida...)

10.11.06

Multidão

Eu que estive lá.

De qualquer forma,
nua, ela me disse
que seria.

Não há mais palavras a serem ditas.

A profundidade do ser é engolida.
Tragada pelas ondas produzidas com a multidão.

Pela multidão.

Nua, ela me disse que seria.

Calada, indiferente,
usada e destroçada.
A multidão caminha.

Acomodada em pedras,
adormecida no chão podre,
imundo em poeiras e cuspes.

Não é mais estupro,
porque nem dá mais prazer.
É comum, banal.
Sem bacanal.
É comer. Sem fome.
Ávido, sem fome.

Nua, ela me disse que seria.

Clara como as águas
fétidas do rio que morre.

Ela disse.

Ela sonhou.
E agora hiberna.
O sono que não foi permitido.
Repleto de angústias,
ensopado no suor que não extravasa
um sequer de dor, um sequer pedido.
Mesmo que sequeira,
sequisesse,
sequeria,
Sonhar.

Nua, ela sabia que seria,
e estava lá.

5.11.06

Vivências

Vividas em experiências,
De todo dia,
de dias todos,
de idas e vindas.

De entradas e saídas,
viagens eternas,
Sonhos efêmeros,
firmes idéias.

Paciência esgotada,
torpor em cadência.

Palavras-testemunhas.
Oculares e cheirosas.

Virando o mundo,
de patins a Palmas,
Tocantins à calma.
Moçambique, Bolívia.
Cuba, Cusco.

E Equador.

Dos trópicos aos centros.
Centros-excêntricos,
externos, exclusos.

Obtusos.

Ela caminha,
e em pouco chega.

Ao Camboja,
Comores,
Amores.

Açores.

Às Costas,
Ricas de Marfim,
Constantinopla.