Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

27.4.06

Conversa de botequim



AQUELA (da voz grossa e firme, a que fuma)

- Estou sob pressão. Mas, assim, a ponto de explodir e sujar o teto da cozinha com o feijão seco, sabe?

MATUSQUELA (da voz amiga, rápida e curiosa, e que bebe)

- Sei. Sei bem. Aliás já fiz isso. Que inferno. E o cheiro?

AQUELA

- Ah, mas nem me fale. Parece que não sai nunca, pra gente lembrar bem.
(E puxa um trago longo do seu cigarro)
Êta "fasezinha"... Não, tá sendo ótima. Maravilhosa. Não tenho do que reclamar. Mas que tá foda, tá.

MATUSQUELA

- Muita pressão?

AQUELA

- Muita. Demais. De todos os lados. Tudo o que eu precisava. Sabe? Pra sair daquela inércia. Daquela mesmice.
(e mais um trago)
Tô cheia de novidades, projetos. Mais segura. Mais feliz.

MATUSQUELA

- Dá pra ver, viu? Dá pra sentir. Tá sendo bom passar esses dias do seu lado...

AQUELA

- É. Ainda dou umas balançadas. Fico pirando nuns pontos que antes eram super complicados, sabe? Parece que vivo uns "revivals" muito claros, que me foram muito presentes. Ah! Você me conhece, né?

MATUSQUELA
(com um pequeno sorriso fechado)

- Né?

AQUELA
(com um sorriso de contemplação, de cumplicidade plena)

- É. Me conhece. Não tem jeito. Eu sou esse furacão. Que passa, perturba e depois sai perguntando pra todo mundo se incomodou, o que incomodou e principalmente: corrigindo todos os estragos que fez. (e sorri gostoso)

MATUSQUELA

- Mas o mais legal, é que você se conhece muito bem. Impressionante. Mas mesmo assim, insiste em sofrer desse jeito.

AQUELA

- Se não sofresse não teria chegado onde cheguei.

MATUSQUELA

- Onde, mulher? Onde foi que você chegou?

AQUELA

- Exatamente aqui. Neste ponto. Nesta conversa. E principalmente neste sorriso. Você pensa que é fácil, é?

MATUSQUELA

- Não. Eu sei que não. Mas tudo o que é difícil pra você, também é fácil. É o simples que você procura. Complicando tudo. Só que do jeito mais encantador. Voltas e mais voltas.

AQUELA

- É. E com pressão. Muita. A ponto de explodir, lembra?