Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

30.9.06

Quando aviões caem...

Sim, sim. Tudo está bem.

Em alguns minutos,
um susto.

Mas tudo está bem.

De repente,
uma angústia.

Mas tudo está bem.

Te peço desculpas,
mas tudo está bem.

Te sinto saudades,
mas tudo está bem.

Não consigo pensar,
mas tudo está bem.

Penso. E arrependo
derradeiro contato,
mas tudo está bem.

Não quero que vás,
mas tudo está bem.

Me sinto pequena,
de novo em teus braços,
mas tudo está bem.

Administro perguntas,
mas tudo está bem.

Te chamo, nervosa,
mas tudo está bem.

Não é o momento,
respiro tranqüila.

E tudo está bem.

(Mas que nervoso...
Estas determinações repentinas
que terminam contatos,
rompendo os laços,
que não estão resolvidos.

Ou que não foram vividos.

É por isso minha pressa.

Mas de qualquer forma,
estarei por aqui,
vivendo contigo,
independente de opiniões.
Não importando as ações.

Você é e sempre será,
o meu predileto.)

29.9.06

Todo dia

Cada dia, uma palavra.

Uma palavra lida,
apenas.

Outra escrita.

A evolução lenta,
que progressando, progressando,
vai chegando onde não sabe.

Não quer nem ousar saber,
para não pular o presente,
fazendo do futuro o que já passou.

Imediatando as tarefas,
em ritmo que cansa,
mas que parece passar em dobro.

Aí é lento.
A duração é dupla.
Em aceleração negativa.
Em atrasação positiva.

Movimento Constante,
que obediente
é Uniformizado.

E não se move,
na inércia de um dia que custa a passar.

Mas já passou.

28.9.06

Da tentativa

- Ei, menino. Te falei para tirar o dedo daí!

Quem foi que te falou que as flores crescem assim?
E já sorridente o pequeno Tarcísio mudara de idéia. Explora novos mundos. Queima as mãozinhas pensando que podia alcançar aquele brilho todo pra si. Mas passa.

- Quando casar, sara...

E quem disse que Tarcísio pensava em casar? Ele só sabia que a via. Era linda e passava por sua frente perguntando. Ela sempre perguntava. Queria saber de tudo. E daquela cicatriz.

- "Só há uma mulher no mundo" - disse o diabo tentando Jesus.

E da paixão por ela, Por elas, todas elas. Sobra uma que o derrota. O destrói e o leva consigo para longe das flores. Dos lindos Narcisos que coloriam a frente daquela casinha azul.

- Tarcísio! Me leva contigo. Irei aonde tu fores, desde que vás junto comigo... Te levarei.

E foi. Ele foi, construído de novo. Acreditava. E sentia a marca dos sonhos nas mãos. Nunca os deixara para trás. Trazia. Prazenteiro o novo mundo.

26.9.06

Dançarina de Tango

Ela inspira.

Reconhece seu corpo e equilíbrio.
Ela olha e encontra olhos nos quais confia.

Ela cresce o corpo e se atira.

Ele olha e a deseja.
Ele consome seu espaço,
movimentando os seus braços,
esperando que os passos,
os preencham.

Ele toca seu corpo.
Sustenta sua leveza.

Ela ama.
Se coloca em alta pose,
E ignora.

Mas logo volta e
sente falta.

Não esquece o toque,
Sente o quente.

Penetra a alma,
muito mais que o sexo.
Viaja em seu corpo,
Reconhecendo o caminho.

Ele retoma,
a torna.
Em si.
Em torno de si.

Ele a beija,
sorvendo toda a energia eterna e infinita
que aquela boca oferece.

Ela recebe o beijo e falece.
Falecimento do corpo,
Avivamento do espírito.

E volta.
A música termina,
mas o laço cresceu.

Ela agradece.
Ele sorri.


Sorriam.
E se amam mais.

23.9.06

Do eclipse

Estou com calos nos dedos. Me pus a escrever sem parar.
Acompanhada em silêncio por idéias que tumultuam a mente.

São multidões. Mas passam tranqüilas em procissão.
Estive distante das teclas para resgate da escrita. Foi assim que aquele diário foi escrito. Sensações registradas, sinceros desalentos. Insegurança falada. Prescrita.

Foi exato o narrado. Observei para estudar. Já tinha vontade, faltava o porquê. Animada me pergunto: qual é o seu ritmo?
- Qual é sua força?

Em nova rotina, continuo a mesma. Naquela essência, que já deu para ver. Que já deu para sentir e agora é só aceitar. Mas há diferença. Há esperança. E quem sabe. Quem sabe acontece. Aquilo que tanto sonhei.

Acredito.

19.9.06

60

Número cardinal,
ordenado em fila,
aguardando posição.

Você senta e sabe das diferenças
que o mundo impõe.

Você sabe e pensa a quantidade
de informações contidas nas contidas
imagens deste poste de publicação.

São sessenta lambe-lambes,
grudados com cola pixelizada.

São desejos e observações
empacotados em uma mala de dados.

Dados ao acaso e ao ritmo de um
ouvido caduco,
um ouvido de percussão.

Foram sessenta quesitos.
Sessenta emoções.
Você senta de novo,
e são sessenta momentos,
doentes de sede
eleitos imediatos
em jornada infinita
rumo ao final.

Ritmo: compasso de sessenta por quatro.

18.9.06

Descompreensão

De nada em nada,
ela fica sem compreender.

Ela fica só.

Devaneando as respostas para uma mente obtusa.
Uma mente querida,
mas confusa.

Uma mente cega,
e inocente.

Uma mente certa,
e inteligente.
Perdida e insegura,
é o animal selvagem que não sabe onde está.
Nem quem é.
Nem pra quem.

E não há palavras,
não há linguagem que se faça entender.

Não há maneiras de se chegar.


Não sei o caminho,
e cansei de procurar.

Já estou toda machucada.
Arranhada por suas garras,
que, cruéis, não sabem amar.

12.9.06

Desinspiração

Desidratada, enlatada, consumida.

Hoje falo de mim.
Percebo ao redor, vejo novidades.
Estou pairando no ar.

Como em um diário,
vou exercitando o dia.
Sorvendo energia.
Catapultando as idéias.
Catalizando o serviço,
e catando os estragos.

Estão compilados.

Continuo, te espero.
Viajo, não muito.
Inspiro, expiro.

Suspiro e pavê.

6.9.06

De longe, 25 de algumês de MileNãoSei

Ó, meu João.

Onde é que te encontro?
Qual foi o ponto de encontro?

Em que hora te perdi?
Porque foi que te esqueci?

Não me vejo mais em sã posição.
Me sinto nua na multidão,
Devastada com a solidão,
Que a tua falta, João,
Me fez viver.

Eu te amei, meu querido João.
E te jurei eterna minha alma.

Te sonhei em sonhos calados.
Te vesti com meus beijos cantados,
Te inventei em meus contos narrados.

Eu te lembro, João.
Eu me lembro para nunca mais esquecer,
Que é a ti que devo entregar.

Te darei, como dei,
Me farei como fiz,
Te amarei como nunca.
Pois aprenderei contigo a magia do não mais estar só.

Meu João, meu amor.
Serei tua Maria,
serei pra ti,
de ti.

Contigo,
meu João.