Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

30.3.07

Banho

- Ei, moça, me vê um trocado aí.
Eu quero sair desse lugar daqui.

Olha para os meus pés e entende.
Eu queria mesmo é ter um lugar para tomar banho.
E você não vai emprestar-me teu banheiro.
Teu refúgio de lavagem dessas máculas,
de poeira de cidade que insiste impregnar.

- Ei, moça, me vê um espaço aí.
Eu quero sair desse lugar daqui.

Olha para os meus brincos.
Olha para minha blusa cor-de-rosa.
Perceba que isso aqui não é lugar pra mim.
Eu quero me sentir bem e perfumada,
acalentada com o brilho das águas. Limpas.

- Ei, moça, me vê um abraço aí.
Eu quero sair desse lugar daqui.

Olha para o meu eu.
Transponha essas grades que nos separam.
Experimenta a vida do meu lado e luta comigo.
Estamos sendo tragados.
Exterminados internamente do lado de fora.

- Ei, moça,
me vê.
Eu quero sair.

26.3.07

Localização

Exaustão


Inerência
Exatidão




Incongruência__________

Exauria
Incomodação



Expurgo_________




Ingerência
Exonero________

______Incapacidade






Explicito
Inúmeros





_____________________________________
Exógenos













FUTURO ___________



20.3.07

FotoPrimazia

A primeira estrela da noite.

Surge sobre a cidade,
única mas amparada,
em meio às infinitas possibilidades de ser apagada.
Sobreposta.

As luzes da cidade acesas. A disputa do espaço.
O espaço infinito que poderia abrigar a todas as causas.
A divisão injusta que deveria arraigar todas as lutas.

O relativo do tempo,
a efemeridade do feixo.

A primeira estrela da noite.

Forte, aparece apesar das outras.
Luzes.
Feroz, arrefece o pesar de todas.
Mesmas.

Explorada, somente aguarda o tardar do dia,
quando a noite.
A falta das mais luzes,
pode permitir que a sua existência seja vista.

A primeira estrela da noite.

Ela existe,
tão logo,
pense.


18.3.07

Presente

De uma terra chuvosa, em algum dia de começo de ano de um ano que começou antes do que devia.

Caro,

começo esta carta te contando as últimas novas. A vida simples por aqui traz-me certezas que antes não ousava tomar como certas. Aquelas idéias que se relacionavam com disposições, tempos e momentos eram realmente plausíveis. Intuídas por certo. Iniciaram-se em terreno arenoso, etéreo e profundo e vieram a fundar-se geologicamente na vida pacata que este novo horizonte me abre. Tinhas razão quando disseste da intensidade dos detalhes, do pulso ouvido, dos sentidos tocados. Beijados. Indeclaradas horas a fio. Tomo aqueles proseios como leitura diária e diuturna que inspiram as artes produzidas. Artes prescritas. Ontem mesmo, conversava com uma amiga. Contávamos momentos passados, ríamos com bobagens de vidas divididas. Sentíamos o passar do tempo marcando uma existência. Observávamos juntas as credulidades a que nos sucumbimos. A construção de um novo pensar. As decisões que tomamos. A liberdade adquirida a duras penas. Lembrei tanto de ti. Lembrei da maneira como nos conhecemos. Senti mais uma vez tua presença... Queria saber como andam as coisas por aí.

Me despeço, por ora. Me aqueço contigo no mundo do infinito. E não te digo o que sinto porque assim combinamos. Sei que o tempo é relativo. E que em breve, muito breve, estaremos juntos de outro modo que o de agora.

Maria
Mariposa

14.3.07

Minha arte hoje é...


9.3.07

Face

Renasce incerta, impura, com máculas sem crer, percebendo que,
das cinzas escassas virá nova, de novo fluxo, novo corpo, concebida.
Retoma o passado como se visse ao longe o futuro que suplica
a tranqüilidade das imensas angústias que vividas nas esquecidas
voltas passivas e insalubres busca sua alma escondida em si.
Em si própria, em si mesma, sem justiça nem significado. Apenas só.
O mundo é protegido e não há mais ameaças. Somente mentiras...
Aprendeu a guardar: não tinha escolha, jamais suportaria. Ostenta o
receio encoberto. Avergonçosa, cheia de dedos, desmerecida.
Incompletude, vaziedades: Não obrigam mais que fales de si, de tudo.
Se já não te importas, te ponhas ao centro. E mantenha o silêncio.
Débil ou ingênua, é medíocre. Acredita no movimento ascendente.
Percebe engano. Cai a máscara e te dizem: remova tuas películas.
- Misture a massa, modele o engodo, purpurine. És manobrada! Sim,
construa tua casa, contribua com o nada. Seja e permita. Qual 'nos
façamos uma cidade!' não seria belo? Menos sujo? Contraditório...
Movimento que cresce, revolta que arma, insuficiência do sim, sim e
porque. Abro olhos. Caminho traçado, reconheço as pedras. Acordo.
Parada concreta. Ansiedade em espera. Arquiteta. Contatos de estetas.
Canetas corretas, querelas, palavras, retraço o projeto, acredito.
O confuso da obra, a visão do preenchido, vazão do vazio em rimas.
Te espero, em desespero pelos momentos que permeiam o real,
maria-meu-povo, meu outro, agora meu hoje e meu nunca.

És parte integrada, já e não antes, Revoluciona o sustento do mundo,
libera o casulo daquela que não está. Completa o ciclo e ninguém jamais
compreenderá.

5.3.07

Organismo

Renasce
das cinzas escassas
Retoma
a tranqüilidade das
voltas passivas

O mundo é protegido e não há mais ameaças.
Aprendeu a guardar:
receio encoberto.


Não te obrigam mais que
te ponhas ao centro.
Acredita no movimento ascendente.
Cai a máscara e te dizem: remova tuas películas.
- Misture a massa,
construa tua casa,
façamos uma cidade!

Caminho traçado, reconheço as pedras.
Arquiteta.
retraço o projeto

Te espero,
maria-meu-povo.

Revoluciona o sustento do mundo,
libera o casulo daquela que não está.

4.3.07

Esqueleto

das cinzas escassas

voltas passivas

receio encoberto.


te ponhas ao centro.
remova películas.
construa tua casa
reconheço as pedras
retraço o projeto
maria
sustento do mundo
libera o casulo

3.3.07

Comparamentos

Em outros dias,
os dias passavam,
em ciclos pediam,
que histórias fossem contadas.

Em outros dias,
o vazio imperava,
o contato esperava,
enquanto a vida era reparada.

Em outros dias,
o conjunto fluia,
o contexto confuso
dizia, coisas não estavam exatas.

Em outros dias,
exercia palavras,
teorizava sentidos,
perdida encontrava: questões amarradas.

Em outros dias,
visitava receios,
expunha pretextos,
sincera sorria e lamentava a mordaça.

Hoje,
ela fala,
ela brilha,
ela canta,
ela sonha,
ela anda,

Ela.

Ela vê.

2.3.07

Constelações

Telas visíveis.
Texturas sensíveis.
Respingos de brilhos.
Mesclados por outros níveis.

Ponto de vista diminuto.
Sétima menor postura,
Arte restrita ao infinito.
Tendência cadente do indivíduo.

Oníricas lembranças do possível.
Encontros remanescem metafísicos,
Amanhecem confluídos,
Reconhecem convencidos.

Universo reduz-se ao fim e,
Recomeça em teoria.
Rostos umedecidos retomam caminhos libertos,
transitam em busca de aquietarem na luta.

Viagem de volta
à terra do amante
constante,
Sistema 55 Cancri.