Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

21.9.07

Valsa do Não

estrofe encerro começo insistente

O suave toque das notas.
Copos de vidro,
molhados reluzindo notas.

estrofe encerro começo insistente

Música de chuva.
Parágrafos de chaves.
Labirinto intermitente.

estrofe encerro começo insistente

Secura de frases
Narizes que sangram,
Valsa moderna.

estrofe encerro começo insistente

Tempos inférteis.
De interferências agudas.
Importunidade intrusa.

estrofe encerro começo insistente

Palavras enjaneladas.
Tempos de observação.
Reprocura.

estrofe encerro começo insistente

Exercício de libertação,
clausura despretensa;
é preciso viagem!

estrofe encerro começo insistente

Ruído, ruído insistente,
É o fim do começo.
É o término do que passou.
É nova fase,
novos sapatos,
novos caminhos,

renovadas estrofes.

7.9.07

Caminhão

Via aquelas faixas correndo brancas
o asfalto quente.

Vinham intermitentes ao meu encontro,
parecendo indicar um fim.

Um motivo.

Percorriam inebriantes cada fibra.

Da boléia eu sentia o peso.
Era o peso do percurso.

Da carga das frutas de fibras.
Atemporais.
Imediatas, urgindo
o final das faixas.

Que para elas era certo.

Faixas de asfalto branco.

Zombavam meus cigarros,
Engolindo todo sonho
qualquer sono,

Em todo-todo o tempo.

Regorgitando as companhias,
Em-mesmando todo caminho.

Caminhando. Não para o fim.
Nem para o propósito.

"Caminhando porque na vida se caminha."

É que eu não posso saber
que posso escolher
qual o fim do caminho.
O começo.
Nem o caminho.

Eu quero vida de artista com a estabilidade dos sensatos.

3.9.07

Sapatos Masculinos

Sentava à beira da cama.
Mal sabia se o que acontecia
ainda era sonho ou brincadeira.

Ouvia longe a música do vizinho.
Aquele apartamento de centro,
de barulhos coletivos.

Tentava entender o que passava.
Ainda lembrava aquele beijo.
Me sentia impregnada do teu jeito.

Mas resquícios ali não havia.
Eu tinha te visto. Te conversado.
E nós tínhamos vivido.

Mas eu não sei quem você era.
Não tinha teu nome nem endereço.
O que tinha era o teu cheiro.

E os lençóis tinham as marcas.
(Podiam ser as minhas de hoje
ou de ontem as minhas)

Mas os sapatos...
Ah, os teus sapatos.

Quem é você?
Mistura de um e de outro,
nenhum e nem outro.

Ainda não te conheço.

Mas já os tenho teus sapatos.
Devidamente largados,
ao pé da minha cama de marcas,
no apartamento do centro,
esperando seu dono.