Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

26.10.06

Olho Mágico

Dúvidas pairavam no ar. Como a poeira levantada pelo trânsito da avenida lindeira, era possível tornar imagem as questões que a circundavam. A cada movimento, aqueles minúsculos elementos se moviam, sem massa, ao redor de seu corpo. Iluminados como fantasmas que não existem, pelo sol de fim de tarde que invadia o espaço como se tivesse sido convidado à mais elegante das festas sociais. Daquelas festas que não são só suas. Porque se fossem iríamos nus. Iríamos à vontade, sem a graça mentirosa, sem etiquetas estabelecidas. Estabilizadas. Mas esse sol que invade como convidado, tem a habilidade de ser a graça perfeita e de cartilha, sem deixar de ser sol. Sem deixar seu em-si-mesmo. E já nessa hora, a campainha toca.

E ela larga todas suas imagens e perguntas entregues à gravidade de sua realidade, ali. Perto da cadeira que ocupava enquanto cozia tecidos aleatórios. Foi à porta mágica atender pelo olho de entrada. Abismada, viu que não era nada. Não era ninguém. E em um segundo-mais-terceiro-do-que-quarto, foi capaz de retornar à infância. Lembrou-se de um momento de expectativa imensurável. De fé inabalável. Do dia em que Papai Noel, ele-próprio, tocou sua campainha. E ali deixou em quantidades, presentes que a deixariam tão feliz por um bocado de tempo. Lembrou-se da luz que aquele dia inventou. Foi capaz de sentir o cheiro que sua casa tinha no dia em que a mentirinha-que-se-faz-verdade entrou pela fresta da porta da frente. E noutro segundo, retorna. Retorna àquele tempo em que nenhum bom-velhinho seria capaz, com seus presentes coloridos, roubar-lhe um sequer sorriso. Curiosa, mete a cara para fora para ver o quê que há. Não há quê algum. Teria sido delírio?

A porta é fechada. E ela torna à sua cadeira mais duvidosa do que estava: tinham as imagens vibrações? Dizia o sol alguma coisa em sua mente? Não era possível que de tudo-um-nada que habitava suas pestanas fosse feito fato sair som. E ainda som de campainha. Fosseria um desejo incontido de ver papai noel de novo? Ou seria bem-verdade que sua porta tinha sido cortejada?

E num repente-muito-mais-que-um-instante ela torna à porta, que em silêncio não esperava o toque tão determinado de sua amassa-aneta. Um susto. Tinha alguém-de-trás-da-porta. Um alguém esperançoso que pudesse pelo olho, ao contrário do propósito, olhar para dentro aquela menina. Pelo olho que dizem mágico, penetrar a sua alma e oferecer-lhe novo mundo. E quando a porta abre novamente, não há mais o que seja feito. E ele diz que vai falar, mas o quinto já passou. E a porta já fechou. E o olho não deixou. Não o deixou que entrasse. Não sem amor. Não sem suficiente amor.

E quem foi que disse que os olhos são capazes de medir o-quanto-amor que carregamos no coração? Fosseria a menina responsável por valioso instrumento? Ou seria mais um devaneio de sua mente?

- Pois a campainha fica lá pra ser tocada. E o olho pra ser mágico.

1 diz pra mim, diz

Anonymous Anônimo disse...

ô moça. Tô numa correria esquisita, então ainda não consegui te responder. Mas achei tão bonito porque eu também te lia em segredo.

Tenho que ir pra faculdade, quando voltar tento desenrolar.

Um beijo meu:
- Mari, do enloucrescida.

07:38

 

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