Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

10.11.06

Multidão

Eu que estive lá.

De qualquer forma,
nua, ela me disse
que seria.

Não há mais palavras a serem ditas.

A profundidade do ser é engolida.
Tragada pelas ondas produzidas com a multidão.

Pela multidão.

Nua, ela me disse que seria.

Calada, indiferente,
usada e destroçada.
A multidão caminha.

Acomodada em pedras,
adormecida no chão podre,
imundo em poeiras e cuspes.

Não é mais estupro,
porque nem dá mais prazer.
É comum, banal.
Sem bacanal.
É comer. Sem fome.
Ávido, sem fome.

Nua, ela me disse que seria.

Clara como as águas
fétidas do rio que morre.

Ela disse.

Ela sonhou.
E agora hiberna.
O sono que não foi permitido.
Repleto de angústias,
ensopado no suor que não extravasa
um sequer de dor, um sequer pedido.
Mesmo que sequeira,
sequisesse,
sequeria,
Sonhar.

Nua, ela sabia que seria,
e estava lá.

0 diz pra mim, diz

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