Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

21.2.07

Esguichos de Necessidades

Ordenadas, pessoas diversas encontram-se. São momentos divididos entre estranhos. Uma ansiedade silenciosa compartilhada. Os relógios, a pior companhia, são apreciados como os amantes ciumentos que investigam olhares furtivos de seus suspeitos cônjuges. São em maioria mulheres. Aguardam atentas atendimento. Única é a fila para o bilhete único. Solução única. Tempo perdido em espera. As mulheres são mais calmas. Um homem vai e se exalta. Um guichê vai almoçar. Ficam dois. As crianças correm de um lado para outro. Uma finge ser avião e voa livremente com braços abertos por entre as pernas impacientes daquele amontoado de gente. A outra faz do baldinho um tamborete. Sai encantando a avenida com seu ritmo carnavalesco perfeito. Todos aplaudem. Incomodados com tamanho barulho soltam bufas de desalento. Mas a avenida tem disso não. Tem um mais à frente, que brinca com seu carrinho. E já cansado de se acocorar resolve sentar em cima de um pé. Pé de moça que se acomoda como cadeirinha e dá uma cutucada quando a fila tem que andar. Tem a outra que trouxe um livro. Concentrada não percebe que além dos olhos, os lábios acompanham as letras que com palavras exprimem idéias, e a faz viajar. Para bem longe dali. Para voltar de imediato quando a dona com cabelo enrolado num pano se põe a reclamar. Tem gente que puxa conversa. Fala da fila que estava no outro dia. Fala de quando vai ter que voltar. E o tempo passa e passa e passa e o delicioso momento, do atendimento se põe ali. Logo a alcançar. O guichê é ela também. E está mal-humorada. Digita os números que não entende várias vezes. Carimba, dá um visto, passa a cola, cola a foto, bota o clip e me manda voltar: daqui três dias.

À fila.

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