Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

1.2.07

Impotência

Uma lembrança de sensação que primitiva sobe as entranhas.
Sobe invadindo mais que rasgando,
destruindo mais que manchando.
Inabilitando redes.
Desconexas a essa altura.

A vida faz de ti o que bem entende.

Às vezes te deixa decicir a cor.
Ou a hora.
Te permite encontros.
Desencontra.

Às vezes
te deixa plantado do outro lado da linha,
ouvindo musiquinha, esperando a vontadinha,
que mísera, te ri na-cara.
Te ignora. E aí te desliga.
Na cara.

E pequeno,
tu ficas prostrado por uma voz.
Uma voz desconhecida.
Uma voz mecânica.
Uma voz que sabe teu endereço,
sabe o teu telefone,
sabe teu nome
e teu aniversário.
Uma voz que não te significa.

Ela te protocola e tu és mais um número,
apenas uma hora gasta.

E tuas lágrimas não contam.
Teu embaraço não serve.
Tuas idéias não podem ser cadastradas.

Tu.

Tu deixas de ser.
Voltas para a vida com as mãos presas.
E a mente tolhida.

E já não há solução.
Te esqueceram para sempre.
Não te irão mais ouvir.

Nunca mais.

Atendido em um do dois de dois mil e sete. Cliente cadastrado desde oito de novembro de dois mil e cinco com pendências de conta. Pedido de retirada de alerta negado. Condição de atendimento pessoal apenas nos postos credenciados ou via carta registrada com firma reconhecida em cartório. Porque a voz não vale. A verdade é mentira. E nós não podemos fazer nada. Protocolado às dez e trinta e oito da manhã sob o número sete cinco oito quatro quatro nove oito seis dois um zero zero zero zero dígito um.

0 diz pra mim, diz

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