Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

4.1.07

Carta de amor

(Escrevi este texto em 17 de novembro de 2006, em tentativa clara e desastrada de falar sobre o amor. Incentivada, resolvi trazê-lo pra cá.)

Meu amor,

Estive aqui a pensar no amor. Exercício aclichezado por muitos que se dizem poetas. E de fato o são. Não há como negar. Mas estou aqui a pensar no amor sem vestir qualquer personagem. Sou apenas aquela mulher que um dia você conheceu e insistiu em conhecer. Sou apenas mais uma mulher que fez parte da tua vida. Sou apenas mais uma mulher que te encantou desejos recônditos. Mais uma que te fez sorrir. Dentre muitas outras. Que te fez chorar, como algumas outras. Que te teve ciúmes das conversas com outras. Mulheres. Sou mulher comum. Não sou poeta. Não sou além. E penso em amor para te dizer. Quero te dizer como funciona esse sentimento aqui dentro. E aí quando penso nisso, clichês chovem. Granizos-clichês. Não há nessa mulher comum qualquer habilidade para escrever-sentimento. Discorrer-sentimento. Escorrer-sentimento. Te digo apenas o que quero.

Quero dizer que passo a mão nos teus cabelos e sinto o macio de tua voz transbordando através deles. Te digo que ao te ver andar na minha frente imagino o quão único me parece. Te destacaria em meio a qualquer multidão apenas pelo teu andar. Danço contigo, encostada ao teu peito segura e desejada. Converso com teus olhos por horas, chegando a remelar de tanto sorrir ao que eles tanto têm a me dizer.

E aí eu retorno ao pensar-amor. E vejo que são apenas meus olhos que podem trazer qualquer imagem. Não consigo superar qualquer tipo de barreira existente entre o mundo do amor e o mundo das palavras. Imagina-te! É tudo tão vazio que dois-mundos tão iguais, para mim são-agora diferentes. Em teoria são o mesmo, mas as idéias não falam a mesma língua do sentir. Palavras se perdem nos subi-títulus. Não sobem nem descem. Atravessam atropelando. E se confundem. Perdidas.

Meu amor, o que posso falar é que te sinto a falta. Te aguardo. E não sei mais se te acredito. Vivo agora com o ninguém. E por falta de sentir, não me apaixono por ele. Te aguardo. Vazia. Até que recebas esta carta e me possas retornar ao menos o que pensas sobre tudo. O que queiras me dizer. Ou se quiser, calar. Não me importa. Mas sei que te amo. Ou ao menos a idéia de amor. Aquela da qual não sei escrever.


Ansiosa,
te amo.

Maria

0 diz pra mim, diz

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