Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

1.10.07

Rascunho de Óptica

Andava alheia pelos espaços públicos.
Já confortável à falta de abrigo e calefação causados pela frieza dos espaços não familiares.
Lares.
Buscava teu rosto na multidão.
Ele me acompanhava por todo trajeto.

Senti-me encontrada por ele.

Fascinada, reconhecia-o sem vê-lo em completo.
Adivinhava a cor dos teus olhos olhando as tuas orelhas.
O formato-conjunto-formado do teu cabelo e teu escondido perfil.

Um tímido reflexo se esboçava nos vidros dos trens.
Mas eram barrados de imediato à minha compreensão
pela miopia de minhas lentes pouco cristalinas.

Já menos alheia, entretia-me com tua presença refletida.
Tua realidade negativa.
Teu outro lado da imagem.

Não podia ver-te por inteiro.
Não ousaria chamar tua atenção.

Aguardei inquieta algum freio incontido.
Uma mudança de trejeito.
Que fizesse para mim o ângulo perfeito.
Poderia ter te visto.

E te perdi.

Te ganhei para sempre em pensamentos.
Te imaginei corado em meu peito.
Te sonhei pelo resto do trajeto.

Você existiu,
e agora existe.

E nada mais pode substituir a saudade verdadeira que tua imagem inexistente-imaginada me deixou.

0 diz pra mim, diz

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