Metaforia Constante de Olhos que Ouvem Vida [ou resgatam o trauma da boca calada]

9.12.06

Fernanda e Benjamim


FERNANDA (em delírio)

Dá-me licença.
Deixai-me passar.

Prevalecem tuas vontades,
Mas não me comandas.
Não tens a habilidade.
Faltam-te as manhas.
.

(perdido e a negar) BENJAMIM

Exijas-te mais.
Não me machuque.
Apenas esqueças.
.

FERNANDA (em ira)

Tu não pertences.

Não te meta no mundo
do qual não recebestes convite.

(e para si diz)
Se assim viverei em paz,
o rechaço é caminho.

.

(infeliz) BENJAMIM

Te ouço distante,
Não te vejo sorrir.
Te sinto a falta.
Mas a ti,
não consigo sentir.

Onde foi que te esquecestes a ti mesma?
.
.

FERNANDA (vazia e determinada)

Te determino:
Dá-me licença!

Eu preciso seguir,
e tua prisão não permite.
Estejas longe de mim.

(e para si diz)
Por mais que a tua falta
seja minha convalescença.
.
.

NARRADOR

Da arte de narrar a dor,
Se diz em preciso momento,
Em exagero incolor,
Que o mais poderoso tormento
Só trará desconforto.
Só trará desalento.
E jamais será justo ao amor.

Se na doce Fernanda
Não se vê mais verdade,
Doente, não canta,
Não anda não chora nem arde.
É morta e não crê,
É presa nas grades.
Indiferente e enferma,
maltrata-te.

Pacífico sensível Benjamim.
Revoltado entristecido Benjamim.
Terno, carinhoso e perdido Benjamim.
Tu sofres Benjamim.
E perdoa Benjamim.
Realenta o coração, reaviva.
Beija, beija.
.
.
FERNANDA
Benjamim

0 diz pra mim, diz

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